Luini

Conheci a Luini em 2011. A Dani Israel já a conhecia do Crav e a convidamos para trabalhar na produtora num projeto para a TV. A química foi imediata e o que era para ser 1 mês durou uns 3. Ela se envolveu em outros projetos, viajamos, gravamos e conversamos muito. Falávamos sobre cinema, arte, processos, histórias, trajetórias, projetos, futuro. Eu falava dos filmes que pretendia fazer e ela de forma tímida dava sinais de que queria dirigir também. Nessa época já contava com ela em todos os filmes. Tinha encontrado uma parceira definitiva. Tirei a sorte grande.
Completado o tempo de estada na Bac (como chamamos a Bactéria Filmes na intimidade) ela seguiria o seu rumo. Ela era muito grande para ficar parada num único lugar, a energia dela precisava transitar em diversos lugares, em vários projetos e tudo isso muito rápido. Sempre senti isso.
Nunca perdemos o contato e ao sair ficou a promessa de que ela retornaria para o Contos do Amanhã, o meu longa. Ela era o único nome certo na equipe desde sempre.
No dia em que ela apresentava o seu primeiro filme “E Resta Dúvida” na casa da Gisela Sparnember, já falávamos de novos projetos (era sempre assim com a Luini, projetos e mais projetos). E logo em seguida ela me convidou para montar o “Por Entre as Frestas”. Um projeto muito íntimo, sobre os bastidores, sobre a vivência dela nos bastidores. Ela só disse pra mim: “quero que tu monte”. Eu, sem questionar nem um segundo embarquei no projeto, só pedi pra ela tempo, algo muito valioso pra ela. Ela aceitou.
Ao longo de mais de um ano conversávamos sobre o filme. Era algo que nos mantinha em constante comunicação. Volta e meia ela surgia numa janela do gtalk dizendo: “não quero te pressionar, mas como está o nosso filme?”. Entre idas ao hospital, retornos pra casa e outros projetos, nossas agendas não se cruzavam. Até que estipulamos uma meta: Vamos terminar o filme para o Festival de Gramado de 2015, o lugar tão especial pra ela. Era lá que esse filme precisava ser apresentado, ser visto pela primeira vez. Não preciso dizer que ela estava muito feliz com a meta.
Depois de algumas conversas, e duas reuniões reagendadas, apresentei o primeiro corte. Lembrarei pra sempre daquele dia. Ela ao entrar no prédio me disse: “agora preciso andar com uma secretária me acompanhando” e sorriu. Era a mãe dela que vinha atrás. A Luini, meio fragilizada por fora mas muito firme por dentro, queria logo ver o filme. Fomos direto para a ilha e antes que eu falasse qualquer coisa (mania de querer explicar porque tirei isso ou aquilo do filme) ela me disse: “não te explica, quero ver o filme!”.
Dei play. Ela assistiu.
Sem pausas, sem interrupções.
Ao final, quando terminou me disse: “É isso! Era exatamente isso que eu queria! Tu conseguiu captar a ideia!” e em seguida completou “eu só não choro porque a vida me ensinou a ser forte e não mostrar minha fraqueza, mas é isso! “. Eu vi, no olhar dela a emoção. Naquele olhar meio tímido, meio misterioso e totalmente pragmático. Logo ela tirou a touca e disse: “agora sai a diretora e entra a produtora”. E começou a falar sobre o próximo passo para finalizarmos o filme. Marcamos de gravar a locução final. Seria num sábado a tarde.
Chegando o dia, ainda pela manhã, ela me liga avisando que a Naiara viria sozinha pois estava indo para o hospital, mas me informava que já tinha direcionado a Naiara e estava bem satisfeita com as prévias que tinha escutado da locução. Foi a última vez que falei com ela…
Só entendi que estava montando um filme sobre a Luini depois que o filme ficou pronto. E que curiosamente ela falava sobre si homenageando os outros. Homenageando os artistas, o fazer artístico.
Assistir ao filme no domingo, na tela grande do Palácio dos Festivais foi a realização completa da obra. Ali estava a Luini. Na voz, no olhar, no pensamento, em luz e sombra. Sua presença foi compartilhada com todos que estavam presentes e senti que ela abraçou a todos, encerrando as exibições do dia.
Foi mágico, incrível e inesquecível.
Levarei para sempre esse momento comigo e o aprendizado dela sobre tudo. Acredito que conversarei com ela ao longo da minha vida inteira, pensando e relembrando tudo o que falávamos.
Definitivamente, foi a Luini que me ensinou que um filme é para sempre.
Obrigado Lu!

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